quinta-feira, 24 de maio de 2012

Eu era a figurante sem fala e desconhecida do filme dele, em que no máximo levava alguma coisa pra ele, e sorria de longe sem que ele notasse. E ele era o ator principal. E sempre acabava o filme com a mocinha loira sexy e mais bonita de todas. Mas eu de alguma forma, gostava de simplesmente participar da vida dele, mesmo sem ele saber meu nome. Ou saber que eu o achava bonito. Mas todas sempre o acharam bonito não é?E eu já fechei os olhos com força, pedindo pra ter alguma fala na história. Pra ficar em perigo e quem sabe, até ser salva por ele . Consegui o número de telefone dele com a amiga de uma amiga da amiga dele, foi muito difícil. Eu ligava todos os dias as 11:45 nem um minuto a mais e nem um a menos. 11:45. Nunca consegui dizer nada nessas ligações e ouvir a voz mais doce do mundo me pedindo pra dizer algo, dilacerava meu coração. Muitas vezes a vontade de dizer quem eu era e o que eu sentia me fazia desligar o telefone e respirar fundo como se eu tivesse a ponto de um taquicardia. Com o tempo eu parei de ligar e já nem participava mais das gravações dos super filmes de sucesso que ele estrelava, descobri que ele começara a namorar a loira sexy e mais bonita de todas, então a vida dele começou a não caber mais dentro de mim. 25 de novembro, eu lembro exatamente a roupa que eu vestia: Shorts jeans, camiseta branca e chinelos de dedo. Eu estava lendo a sinopse de um livro infanto-juvenil que me chamará a atenção.–Bela escolha. Meu Deus, era a mesma voz doce que me pedia pra falar algo no telefone quando eu ligava de um número restrito e me fazia de muda. Meu coração parecia que ia pular a qualquer momento peito a fora, quando eu olhei pra cima, os olhos que nunca me notaram estavam me olhando, com o sorriso mais lindo pregado no rosto, devo lembrar. -Ah, é. Eu não, não. Não sei se vou levar. Minhas pernas tremiam, parecia que eu tinha tomado um litro todo de tequila em um único gole. Aquele cheiro americano (eu nunca tinha cheirado nenhum americano, mas sabia que aquele cheiro era americano) se misturando com aquele cheiro de livros estavam me embriagando, eu nem conseguia entender o que ele me dizia. -Está tudo bem? Meu Deus ele vai achar que sou louca, pensei. Eu queria falar alguma coisa inteligente pra impressionar ele, mas não conseguia pensar em nada.-Ovos com bacon. Falei enfim. Agora ele ia ter a certeza de que eu era louca.-É, você ainda gosta de ovos com bacon?Ele riu e disse: -Claro, eu adoro ovos com bacon e uma… –Xícara bem grande de café. –Completei, agora tinha uma louca que não falava nada com nada completando as frases que ele dizia. Ele pareceu não se importar, não tirava aquela estampa brilhante de sorriso do rosto. -Então vai levar o livro?Eu não fazia ideia de que livro ele tava falando, então lembrei que o motivo de ele falar comigo foi aquele bendito livro. (Como eu te amo livro)-Claro. É. Hum rum, vou levar. Parece legal, né?Ele me contou todo o enredo do livro e claro eu não prestei atenção em nenhuma palavra que ele dizia, estava eufórica de mais pra prestar atenção em alguma coisa. Ele me convidou pra tomar um café, não pensei duas vezes. Conversamos horas, parecia que éramos amigos de longa data. Contei a ele da época que eu era figurante sem fala dos filmes que ele era o ator principal, não mencionei o meu desejo de ser salva por ele. Ele me contou coisas que eu nunca tinha visto nas revistas de fofoca. Ele pegou meu número e me ligava todos os dias as 11:45, nem um minuto a mais ou a menos. Nunca contei pra ele que eu costumava ser a muda das 11:45 que ligava pra ele,mas de alguma forma ele parecia saber. Três anos se passaram e o ator que não me notava, passou a ser o ator principal da minha vida, sem precisar encenar, eu não era mais a figurante sem falas, eu havia me tornado a mulher da vida dele e ele o homem da minha vida aquele dia, 25 de novembro às 11:45 pra ser mais exata.
(Sara E Mayara) 

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