sexta-feira, 20 de julho de 2012

Parecia que eu tinha acabado de deitar a cabeça no travesseiro e o telefone toca. Olho no relógio 03:05, "quem em sã consciência ta me ligando uma hora dessas?" pensei. "Oi" disse quase que pra dentro. "Desculta ta ti ligando essa hora, é que eu to sentindo tanto a sua falta" disse a voz do outro. Eu esperei tanto tempo por aquela ligação, eu quis tanto ouvir aquilo. Mas não foi como eu esperava, eu me senti ofendida, sabe, eu senti a falta dele todos os dias, eu passei noites e noites sem dormir mas nem por isso enchi a cara e liguei pra ele de madrugada. Eu desliguei o telefone, voltei pra cama, pus a cabeça no travesseiro, fechei os olhos mas não dormi. É não dormi. Não por arrependimento de ter desligado o telefone, mas por arrependimento de ter esperado que ele algum dia ligasse. Eu ri baixinho e voltei a dormir, no outro dia acordei bem cedo, tomei um banho, pus uma malha fina e fui caminhar no parque. Eu tinha me esquecido do quanto era bom não ter um buraco no peito.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

-Casa comigo?
-Quê?
-Casa comigo, ora.
-Agora?
-Não, eu to falando de casar na igreja, você de branco eu te esperando. Essas coisas.
-É serio?
-E se for?
-Eu vou chorar.
-Não chora, eu só te pedi em casamento.
-A gente pode plantar uma árvore?
-A gente vai morar em apartamento.
-A gente planta em algum lugar.
-Pode ser.
-Eu queria um jardim.
-Eu desenho um na parede da sala, e todos os dias a gente desenha uma flor nova.
-Vai chegar uma hora que  não vai caber mais flores na parede da sala.
-A gente desenha na casa toda.
-E quando não tiver mais espaço?
-A gente reaviva as que já foram feitas.
-É, legal. 
-Eu quero um cachorro.
-A gente vai morar em apartamento.
-Eu quero um daqueles pequenos, pra ser nosso filho.
-Eu quem devia ta falando isso. 
(Eles riem)
-Você pode usar o cabelo preso no dia do casamento?
-Porque?
-Eu te acho ainda mais linda de cabelo preso.
(Ela fica olhando pra ele durante algum tempo, até que ele levanta e à puxasse pela mão)
-Vem, vamos.
-Pra onde?
-Pra igreja ora, temos um casamento pra marcar.
 

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Você sabia que eu ia embora e nem se deu o trabalho de me pedir pra ficar. Pós nossos planos, sonhos, lembranças, fotos, nós, dentro de um balde jogou pela janela. Colocou uma loira gostosa na moldura de um porta retrato na sua cabeceira, tatuou o nome dela no seu anti-braço, passou a sair todos os finais de semana pra beber e vai trabalhar com ressaca na segunda. Nem parece o meu menino, que me amava por ser pequena, tinha fotos nossas espalhadas por todo o apartamento, íamos ao cinema todos os finais de semana e eu te acordava com café na cama todas as segundas. Otário. Eu segui minha vida, mudei seu nome na agenda do meu celular de amor passou a ser "fulano". Pintei minha casa, cortei o cabelo, ganhei uma promoção no trabalho, amadureci. Você não foi um atraso na minha vida, mas ti deixar pra traz foi um ponta pé pra uma vida melhor. Eu ti vi outro dia, você parecia com pressa, e eu te observei até que dobrasse a esquina. Meu coração não acelerou, minhas mãos não tremeram, não perdi os sentidos, nem desmaiei e comecei a babar. Eu pensei que eu nunca fosse conseguir viver sem você, mas eu consegui. Dos nossos planos eu segui com alguns, comprei um cachorro e fui feliz pra sempre. Eu vi suas mensagens na minha secretaria eletrônica, eu to te escrevendo só pra avisar que ser feliz pra sempre implica em não atender as ligações de um ex frustado por ter sido jogado pela janela por uma loira gostosa cujo número esta tatuado no braço.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Já faziam cinco anos que eu voltava naquela cidade e ela continuava a mesma. Os senhores sentados numa mesa na praça jogando dominó, as crianças andando de bicicleta no parque e as pessoas levando a mesma vida pacata de sempre.
 Entrei pela porta da frente que como sempre só estava encostada, a casa não mudara nada desde a ultima vez que estive ali, as poltronas no mesmo lugar, a mesinha de centro, tudo no mesmo lugar. Pus minhas chaves sobre a mesa e fui até a cozinha onde deduzi que minha mãe estaria. Ela estava de costas, tirando algo muito cheiroso do forno, pós a bandeja repleta de pães de queijo sobre o fugão e eu à abracei. Meu Deus, como senti falta daquele abraço e a reação dela me disse o mesmo. Ela passou a mão por entre meus cabelos com seu jeito costumeiro de sempre e com os olhos repleto de água disse ter morrido de saudades. Pela janela vi alguém se dirigindo a porta dos fundos da cozinha, em instantes a porta se abriu e uma moça entrava por ela. Era a moça mais bonita que eu vira nos últimos tempos, a luz do sol poente dava um tom alaranjado ao cabelo dela, seus olhos pareciam assustados ao me verem e logo suas bochechas coraram. Ela vestia uma saia florada com uma blusa azul escuro e calçava chinelos.Ela pós a caixa de verdura que tivera colhido da horta dos fundos da casa sobre a mesa e me abraçou. Eu não sabia porque ela estava me abraçando, mas seu abraço era bom e parecia que eu já o conhecia. Sentamos á mesa ,mãe nos serviu com café e pão de queijo.Conversamos horas. Lembrei que ela era a menina que fora minha melhor amiga na infância, foi com ela que eu dei o primeiro beijo e foi ela a minha primeira namorada. Relembramos da nossa casa na árvore no fundo da casa dela, de que todas as tardes íamos andar de bicicleta, de quando fomos acampar (mas não falamos sobre a nossa primeira vez ter acontecido lá), relembramos de quando íamos pro mirante ver estrelas, relembramos coisas que eu havia esquecido fazia tempo, mas ela parecia nunca ter esquecido. 
A noite fui até a praça e ela estava sentada sozinha lendo um livro, me aproximei e pedi acento ao seu lado. Ela riu e assentiu que eu sentasse ao seu lado. Ela me perguntou de como tinha sido minha vida todo esse tempo que eu estive fora, não podia dizer á ela que levei centenas de mulheres pra me embriagar na cama e que  centenas de mulheres me levaram pra cama embriagado, que  em nenhum dia dos que estive fora lembrei dela ou senti saudade de nossas aventuras. Apenas disse que foram dias diferentes dos que eu viverá ali e perguntei a ela como foram seus dias,confesso ter ficado com um remorso profundo no peito quando ela disse que todos os dias dela foram esperando o dia que eu voltasse. Me senti um canalha por não ter lembrado um dia que fosse dela. Ela deitou no meu colo enquanto me contava como foi na faculdade, parecia que tínhamos a mesma intimidade de cinco anos atras. Eu queria abraça-la e não leva-la pra cama como as outras e isso era estranho. No outro dia pela manhã ficamos deitados na rede na varanda da minha casa, eu queria beija-la, mas tive de me controlar. Cantamos desafinados nossas músicas preferidas. Passamos o dia juntos e no fim da tarde fomos andar de bicicleta,paramos na sombra de uma grande árvore se deitamos no gramado. Todos os dias nós passávamos juntos e era como se eu voltasse a ama-la com a mesma intensidade de antes, o que era injusto com ela, ela me esperou enquanto eu pegava todas as meninas da faculdade e mesmo assim eu iria embora dentro de poucos dias e não poderia machuca-la com a distancia mais uma vez. Uma noite antes de eu ir embora disse á ela que partiria logo pela manhã, meu coração se fez em pedaços quando ela me abraçou chorando e pediu que eu ficasse. Eu a tinha em minhas mãos, podia beija-la, leva-la pra cama e no outro dia ir embora como se nada tivesse acontecido, mas eu não era capaz de tamanha crueldade. Enquanto ela estava em meus braços cheguei a conclusão de ela também me tinha em mãos, eu queria ficar ali pra sempre, por ela. Eu queria  todos os fins de tarde ir andar de bicicleta com ela, parar na sombra de uma árvore bem grande e deitar ali com ela. Eu queria todas as manhãs acordar cedo e ir comer seriguela no pé no galho mais alto com ela. Eu queria ama-la de perto, ir ver as estrelas com ela no mirante, cantar desafinado na rede e me sentir um homem de verdade ao lado da mulher da minha vida, que me esperou durante anos e não deixou que a saudade sufocasse a nossa historia. Ela secou as lagrimas, me beijou e entrou em casa. Tive a sensação que seria a ultima vez que eu fosse vê-la. Sentei na varanda da minha casa e chorei como quando eu era um menino e ralava feio o joelho, eu queria ficar, mas teria de abrir mão de  muita coisa e não sabia se suportaria. Escrevi uma carta me desculpando e pedi a mãe que entregasse a ela e fui embora. Dessa vez foi diferente, eu lembrava dela todos os dias, ficávamos horas falando no telefone e sempre que dava nos víamos pela webcam. Eu pensava nela antes de dormir e pedia que sonhasse com ela. Comprei uma toalha de mesa que me lembrava a roupa que ela estava vestida quando a reencontrei na cozinha da minha casa. Quando a saudade não coube mais em mim, resolvi ir embora e viver minha vida com a minha pequena.
Cheguei de surpresa, pedi que ela casasse comigo e ela aceitou. Casamos no mirante, como sonhamos quando crianças. Pintamos nós mesmos nossa casa de amarelo, colocamos balaços e uma casa na árvore no quintal. Fizemos uma horta que morreu, mas fizemos. Compramos dois cachorros e um gato, o que não deu muito certo já que o gato não gostava dos cachorrinhos então demos os cachorros pra minha mãe e o gato pra mãe dela. Abrimos uma livraria e plantamos árvores na praça. Nada na minha vida deu tão certo como nós dois. Todos os dias eu conto as sardas do nariz dela, pra ter a certeza de nenhuma ter desaparecido. Eu não me vejo acordando ao de outra pessoa que não seja o dela. Eu á amo, de verdade, eu amo.