sábado, 30 de junho de 2012

Era rotina. Acordar 6:25, tomar banho, primeiro a calça depois a camisa, café e sair. Todos os dias o mesmo ônibus com o mesmo motorista, a mesma pessoa do meu lado e sempre o mesmo destino. Era rotina. Viver era rotina.
Eu entrei no ônibus era o mesmo motorista, mas não era a mesma pessoa do meu lado. A menina sem sal que sentava todos os dias do meu lado deu lugar a um rapaz. 21 anos aparentemente, um par de olhos cor mel combinando com seus dentes brancos  e bem alinhados. Eu sou apaixonada por olhos e dentes. Ele vestia uma jaqueta de couro marrom com uma blusa branca por dentro, jeans e allstar. Aquilo não tava nos meus planos, não mesmo. Ele estava ouvindo Los Hermanos bem auto nos fones de ouvido. Ultimo romance, soube ao ouvir. Meu Deus, porque naquele dia, nem era sexta-feia (acho que nas sextas-feiras é mais provável sair da rotina, sei lá). Eu olhava fixo pra ele. É fixo e com cara de retardada, tenho certeza, afinal, não era todo dia que me aparecia o homem dos meus sonhos sentado ao meu lado no ônibus de sempre com o destino de sempre. Na verdade isso não acontecia dia nehum. Eu precisava falar alguma coisa antes que chegasse no ponto onde eu descia.
-Ultimo Romance -Disse bem alto, de certo todos do ônibus ouviram inclusive ele.
- Você gosta? - A voz dele era a voz mais linda do mundo, depois da do Marcelo Camelo.
- Eles são meus, nunca ti disseram? -Ele riu.
Falamos de Los Hermanos durante todo percurso e mesmo falando só de Los Hermanos descobri que o nome dele era Caio, tinha 21 unos como eu tivera previsto, e já estivemos no mesmo show. Meu ponto era o proximo, eu senti a sensação mais estranha da minha vida, parecia que eu ia deixar uma coisa muito importante da minha vida ir embora. Eu disse à ele que minha parada era a próxima -Até amanhã?- Ele me perguntou e é claro que eu estampei um sorriso de orelha a orelha -Até amanhã! Passamos a nos encontrar todos os dias no ônibus e toda minha rotina mudou. Não acordava mais as 6:25, acordava as 6:00 pra me arrumar melhor, escolhia primeiro a blusa, troquei o café por sucos naturais, isso me deixava mais naturalista. Ele me chamou pra ir na livraria depois do serviço e nem era sexta-feira. Ele me ligava nas noites de sábado e sempre me cantava uma musica, tentava ao menos. Com o tempo eu passei a ser a melhor amiga dele e isso me matava e mantinha viva ao mesmo tempo. Ele começou a namorar com menina da sala dele. Nos afastamos, as ligações foram diminuindo até não existirem mais, íamos pro serviço cada um no seu  carro e já não tinha mais o ônibus todos os dias. Ouvia Los Hermanos com frequencia, isso me impossibilitava de esquece-lo. Minha vida seguiu em frente, eu já havia experimentado ela parada por muito tempo e o gosto não era bom. Conheci outros caras, nenhum bom o suficiente pra impedir o oxigênio de  chegar ao meu cérebro e me fazer esquecer dele. "VOCÊ SE APAIXONARIA POR ALGUÉM EM UM ÔNIBUS?" Minhas pernas tremeram quando li isso na mensagem de um número desconhecido. Eu respondi que sim e em resposta outra pergunta -E se apaixonar com as lembranças de um ônibus é possível? - Parecia que eu tinha engolido um cometa, um nó se formou na minha garganta de meu coração batia mais forte, bem mais forte. -Tudo o que eu mais queria era que fosse possível, mas desacredito. -Respondi. 
O número desconhecido nunca me respondeu quem era e nem a qualquer outra mensagem que eu mandasse. 
Em um sábado enquanto eu comprava amendoim e refrigerante na conveniência da esquina meu celular tocou e eu atendi sem nem vê quem era. Não reconheci a voz de inicio, mas depois do "oi, quanto tempo" eu soube que era ele. Eu mais parecia uma pré-adolescente atendendo a ligação do menino mais popular da escola. Eu queria dizer à ele o quanto senti saudades durante todo esse tempo, queria pedir á ele pra voltar. Mas não podia. Eu precisava ouvir ele me pedindo pra voltar, precisava que ele dissesse o quanto sentiu minha falta todo esse tempo e viu que eu era a mulher da vida dele, eu precisava. Mas tudo o que ele disse foi que eu continuava sendo sua melhor amiga e que ele me queria como sua madrinha de casamento. Juro que quis que ele nunca tivesse "reaparecido", mas eu era a melhor amiga dele, não podia deixar ele na mão mesmo depois de tudo. -Meu Deus, você vai casar? Claro, vai ser a maior honra ser tua madrinha.- Disse com a voz tão embargada que parecia que eu tava com uma maça na boca. 
Chegou o dia do casamento, antes disso encontrei com ele umas três vezes pra tratar sobre roupa, lugar, horário, essas coisas chatas. Descobri que a noiva era a menina da faculdade de tantos anos atras e a trilha sonora era Los Hermanos, o nosso Los Hermanos. 
 Ele disse sim, enquanto à olhava com um amor transparente nos olhos. Minha vontade era dizer pra ele tudo o que eu passei esses anos todos e dizer que era covardia da parte dele fazer isso comigo, mas tudo o que eu fiz foi dar a ele os parabéns e desejar toda a felicidade do mundo. 
Nunca descobri quem era a pessoa misteriosa das mensagens. Nunca mais Los Hermanos. Nunca mais muita coisa. Eu não me arrependo nunca de ter me apaixonado por um estranho em um ônibus. Aquele estranho mudou minha vida. Hoje eu sei que é possível amar de verdade, morrer de saudade e ser feliz com a mesma historia mas com personagens diferentes.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Você ta me perdendo e parece nem se importar. E eu aqui, vendo meu mundo desabar com isso e sem entender o porque de tudo isso agora. Eu pensei que você fosse lutar por nós e não desistir na primeira dificuldade. Todos os dias eu mato um leão pra lidar com a distancia, a saudade e ignorar o que as pessoas falam, agora eu vou ter de matar quantos leões pra lutar contra tudo isso e ainda com a tua indiferença? Eu to a ponto de ir embora, você não vai fazer nada? E se eu me perder no meio dessa tempestade, nem por culpa você vai me pedir pra ficar?  Você não precisa nem me dizer nada, só me olhar com aqueles olhos de novo e eu vou saber que eu posso ficar. Eu não quero ter que deixar tudo o que eu sonhei pra gente pra traz, mas eu não posso levar isso adiante se as coisas continuarem assim, isso ta me fazendo mal, eu to cansada de ir dormir mal e acordar mal. Eu sinto saudade de quando eu ia dormir sorrindo e com o coração confortado por saber que você me amava, agora eu vou dormir com o coração apertado por saber que você me amava, não ama mais. Se eu sair por aquela porta, eu não volto mais, e vale lembrar que mais do que por uma porta eu não volto pra tua vida.